Nos textos “Equidade em Saúde: uma análise crítica de conceito”, “Nota breve sobre Desigualdades em Saúde como objeto de conhecimento” e “Segunda nota breve sobre Desigualdades em Saúde como objeto de conhecimento” os autores, ao discorrerem sobre a temática da desigualdade em saúde, destacam a importância de trazer para o cenário de discussão do campo da saúde as dimensões sociais, históricas e culturais. Como é possível perceber nos fragmentos abaixo:
“Precisamos conhecer melhor a dinâmica da determinação social das desigualdades, inequidades e iniquidades em saúde para sermos mais eficientes no sentido de superá-las.” (ALMEIDA-FILHO, 2009, p.20,)
“Ainda como desdobramento desse plano de articulação, será imprescindível investigar os efeitos dos processos sociais de produção da saúde-doenca-cuidado. Pensamos que, nesse caso, importa explorar o impacto das desigualdades na qualidade de vida, no estilo de vida e nas condições de saúde dos sujeitos.” (ALMEIDA-FILHO, 2010, p.8)
“De fato, o estudo das desigualdades em saúde implica adoção de um referencial teórico capaz de relacionar essas diferenças com os processos através dos quais o espaço social é constituído e reproduzido tanto na esfera econômica quanto na simbólica e cultural que podem resultar tanto em apropriação material da riqueza, a partir da exploração do trabalho de um grupo por outro, quanto em violência simbólica, gerando, assim, diferenças que, por serem produto de injustiças, correspondem a desigualdades.” (VIEIRA-DA-SILVA; ALMEIDA-FILHO, 2009, p.222,)
Este comentário surge pela inexpressiva presença de estudos nacionais e autores brasileiros que discutem sobre as desigualdades e desigualdades em saúde no quadro de referências dos textos acima citado. Por outro lado, destaco a importante presença de autores internacionais nos supracitados textos e observo ainda a grande contribuição destes no tema das desigualdades em saúde. No entanto, vejo necessário trazer para a “roda de debate” estudiosos que realizam suas pesquisas no nosso contexto brasileiro, os quais buscam compreender os problemas que emergem cotidianamente nos serviços de saúde, nas diferentes formas de acesso e no direito desigual à saúde pela população brasileira.
Ao se fazer uma reflexão sobre a temática das ‘desigualdades em saúde’, sendo este um fenômeno construído historicamente e situado cultural e socialmente, acredito que seja necessário uma contextualização do mesmo. É preciso perguntar: de qual desigualdade estamos falando? Estamos falando de um fenômeno que emerge do contexto brasileiro? Mas, em qual momento histórico? Vejo assim a necessidade de caracterizarmos a desigualdade a qual estamos nos referindo. Como esta traz as marcas da histórica, da cultura e dos diferentes contextos sociais onde emerge, certamente são diferentes, produzidas de formas diferentes e precisam ser discutidas e enfrentadas de forma diferente.
E a discussão das desigualdades em saúde no nosso contexto brasileiro requer conceitos e teorias que nasçam da nossa realidade. Sendo que, o risco de não situarmos a temática da desigualdade, é de importarmos modelo de saúde, ou melhor, modelo e conceitos de desigualdades em saúde e aplicarmos a nossa realidade brasileira e, ainda mais, nordestina. Modelos e conceitos estes que sem dúvida não atenderão de modo satisfatório aos processos de saúde-doeça-cuidado da nossa realidade.
ALMEIDA-FILHO, N. A problemática metodológica da determinação social da saúde: Segunda nota breve sobre Desigualdades em Saúde como objeto de conhecimento. Texto apresentado como subsídio para discussão no Seminário Rediscutindo a Questão da Determinação Social da Saúde, promovido pelo CEBES, Rio de Janeiro, 22 de maio de 2009.
ALMEIDA-FILHO, N. A problemática metodológica da determinação social da saúde: Segunda nota breve sobre Desigualdades em Saúde como objeto de conhecimento. Comunicação apresentada como subsídio para discussão no Seminário Determinação Social da Saúde, promovido pelo CEBES, Salvador, Bahia, 19 de março de 2010.
VIEIRA-DA-SILVA, L. M.; ALMEIDA-FILHO. Equidade em Saúde: uma análise crítica de conceito. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 25 Sup. 2:S217-S226, 2009.